28 livros de jornalismo literário para você ler
Oi. Tudo bem?
Eu recebi pedidos de indicações de livros de jornalismo literário nos últimos dias e imagino que você aí é jornalista, estudante ou fã de livros de não ficção jornalística. É um prazer me conectar contigo e te indicar obras que gosto muito. Se chegou agora, dê um pulinho nas histórias anteriores.
O jornalismo literário é um troço com várias definições. Se há várias definições, então não há definição, né? Mas o que importa são boas histórias da vida real com aquela textura de papel ou com a luz amarelinha âmbar do Kindle.
Então, sim, para facilitar a nossa vida usarei o termo mais pedestre de jornalismo literário. Vou indicar grandes reportagens, biografias, perfis e até ensaios pessoais publicados em livro. Pronto. Se você for estudante de jornalismo e o professor diminuir sua nota por isso, pode colocar a culpa em mim.
Escolhi livros que considero estilosos e com fórmulas particulares. Tem o escritor que mistura ficção e jornalismo. Tem o romance de não-ficção. Tem as reportagens sobre eventos, períodos históricos, a narração da vida de anônimos e famosos.
Algumas saíram em sites e revistas antes de serem impressas. No futuro, prometo uma lista só com reportagens nesses formatos - em inglês e português.
Lembrando: não sou acadêmico. Sou só um repórter, a mesma profissão do Clark Kent e do Jack Gyllenhaal em O Abutre, uma situação dúbia que me impede de ter a mesma nobreza inata da profissão como a conquistada pelos bombeiros.
Portanto, não pensei em metodologia e não tem motivo para serem 28 livros, embora, coincidentemente, seja a minha idade. Não inveje meu colágeno. Eu já fui mais jovem.
Uma coisa é importante: a posição na lista não tem a ver com a qualidade do livro. Você também deve estranhar a ausência de algumas indicações de clássicos, mas fique tranquilo. É impossível ler tudo nessa vida e nem tudo que é lido também é lembrado. Por questão de espaço, também farei poucas anotações.
Sinta-se à vontade para responder o email, comentar na plataforma e compartilhar. Vou adorar conversar contigo sobre qualquer um dos livros. É sempre um prazer.
1. A alma encantadora das ruas (João do Rio, Brasil, 1908)
2. Fama & Anonimato (Gay Talese, Estados Unidos, década de 60)
Para mim, obra-prima. A síntese, o estilo, a escolha de personagens quase sempre fracassados. A história dos construtores de pontes em Nova York é inacreditável, uma verdadeira inspiração. É importante se atentar a como a história dos personagens avança e decai conforme a construção e a decadência da ponte e da própria cidade. Também sou apaixonado pelos perfis de Joe DiMaggio, Floyd Patterson e Sinatra. Nem o próprio Talese chegou a um nível tão alto depois.
3. A Sangue Frio (Truman Capote, Estados Unidos, 1965)
4. The woman from Hamburg (sem tradução pt-br) (Hanna Krall, Húngria, 2005)
É uma pena nunca ter sido traduzido para o português-br. São histórias de sobreviventes da Segunda Guerra Mundial, o que tem de monte. A Hanna, porém, interpreta a fé, a paranóia e a espiritualidade como elementos sólidos, verídicos, para narrar a realidade de quem viveu o período. E não é? A gente vive fantasias e lembranças manipuladas na maior parte do tempo, não vive? Foi meu terapeuta que disse!
5. Corações Sujos (Fernando Morais, Brasil, 2000)
6. A ilha (Fernando Morais, Brasil, 1976)
7. Vozes de Tchernóbil (Svetlana Alexijevich, Belarus, 1997)
8. Metrópole à beira-mar (Ruy Castro, Brasil, 2019)
A minha autoestima brasileira aumentou com esse livro do Ruy Castro. A gente costuma imaginar a Paris dos anos 20, mas boa parte disso é propaganda. Tínhamos coisa parecida por aqui, chique e confortável. Hemingway perdeu essa festa.
9. Filme (Lilian Ross, Estados Unidos, década de 60)
A história narra a tentativa de produzir um blockbuster em Hollywood, quando a indústria vivia uma enxurrada sem precedentes de dinheiro até hoje. Lillian Ross tem uma abordagem aparentemente simples: ela só descreve o que está acontecendo. E você entende tudo: a dança cadeira, o dinheiro desproporcional, o machismo, a luxúria.
10. A milésima segunda noite da avenida Paulista (Joel Silveira, Brasil, 2003)
11. O livro amarelo do terminal (Vanessa Barbara, Brasil, 2008)
Com certeza, uma das minhas maiores fontes de inspiração como repórter.
12. Honra teu pai (Gay Talese, Estados Unidos, década de 60)
13. Hiroshima (John Hersey, Estados Unidos, 1946)
Obra-prima master blaster hiper. Imbatível.
14. Elogiemos os homens ilustres (James Rufus Agee e Walker Evans, Estados Unidos, década de 30)
15. Dentro da floresta (David Remnick, Estados Unidos, 2009)
16. Notícias do Planalto (Mario Sergio Conti, Brasil, 1999)
17. Chico Mendes: crime e castigo (Zuenir Ventura, Brasil, 2003)
18. O segredo de Joe Gould (Joseph Mitchell, Estados Unidos, 1964)
19. Esqueleto na lagoa verde (Antonio Callado, Brasil, 1953)
20. Prisioneiras (Drauzio Varella, Brasil, 2017)
21. Caderno de memórias coloniais (Isabela Figueiredo, Moçambique, 2009)
22. Maria Bonita (Adriana Negreiros, Brasil, 2019)
23. I’m your man: a vida de Leonard Cohen (Sylvie Simmons, Inglaterra, 2011)
24. Dias bárbaros: uma vida no surfe (William Finnegan, Estados Unidos, 2017)
25. Operação Abafa (Ronan Farrow, Estados Unidos, 2019)
26. A Mulher do Próximo (Gay Talese, Estados Unidos, anos 70)
27. Medo e Delírio em Las Vegas (Hunter Thompson, Estados Unidos, 1971)
28. O livro dos bichos (Roberto Kaz, Brasil, 2016)
Você tem mais dicas de leitura por aí? Quer conversar mais sobre algum livro da lista? Quer mais indicações? Me escreve. Obrigado!
Gostei da lista!
Tem um que li há um tempo, o 'Paralelo 10', da Eliza Griswold. Tenho zero repertório pra saber da relevância e atualidade do texto hoje em dia, mas ela escreve muito bonito.
Oi!
Ainda não li Prisioneiras, mas Presos que menstruam, que imagino que siga a mesma linha, é incrível! Li Estação Carandiru, do Drauzio, e que baita livro!