A história criativa de um gari que criou a própria vassoura
O gari Giorggio Abrantes, 38, criou um uma vassoura feita com plástico retirado das ruas de Aparecida, uma cidadezinha com só 8 mil habitantes no sertão da Paraíba. O apetrecho permitiu que ele pudesse sonhar com a criação de algo maior: abrir a primeira cooperativa de reciclagem da área.
Giorggio tem 730 mil seguidores no YouTube e 100 mil no TikTok. Em 2020, uma vaquinha online doou R$ 15 mil reais para ajudá-lo na produção de mais vídeos. Nas imagens com milhares de visualizações, ele ensina a como criar as vassouras e os objetos feitos de garrafas pet reutilizadas. Mas ele prefere contar a história do começo, de quando era um anônimo como nós.
Antes da fama, Giorggio fez até a oitava série do ensino fundamental. Trabalhou aqui e ali, no mesmo improviso de milhares de brasileiros. Por uns longos quatro anos, viajou de caminhão para vender redes para dormir. A viagem mais longa foi de Aparecida da Paraíba até Campinas, no interior de São Paulo. O que dá uns 2,500 km, ou umas 36 horas. Dormia em postos de gasolina ou onde dava.
Feito as vendas, ele sempre voltava: quando era moleque, conheceu uma mulher num rala-coxa e decidiu que iria dar um jeito de reservar um dinheiro, comprar uma casinha em Aparecida e casar com ela.
O nome Giorggio não é artístico. O pai gostava dos Beatles e quis prestar homenagens ao George Harrison, mas com um toque autoral. “É um nome que não se encontra todo dia, com dois ‘gês’ no meio. Antes, eu só via italiano chamado assim, nunca alguém aqui da Paraíba”.
Após se casar, decidiu parar um pouco com o negócio das redes. Virou um “faz tudo” na prefeitura até a avó lhe emprestar R$ 30 para prestar o concurso público para trabalhar como gari. “Foi o trinta conta mais bem investido da minha vida inteira”, se orgulha.
Parecia tudo dentro dos conformes, mas acontece que o Giorggio se considera um cara tímido e ansioso. Aí, beber ajudava. Ele ficava mais expansivo, menos preocupado, mas cada vez mais dependente.
Para enfrentar o dia de trabalho como gari, ele tomava um gole de álcool pela manhã. Depois do almoço, outro. No final da tarde, mais um e mais um. “Foi virando uma rotina, que gera mais preocupação e arrependimento. Gerou um desconforto em casa”, lembra.
A esposa pediu a separação e a dependência foi ficando pior. Como a cidade é minúscula, ficava fácil encontrar a ex-esposa e, pior ainda, ser visto bêbado e lamentando sobre o estado das coisas. Sem saber o que fazer, pediu para ser afastado do cargo para se tratar em uma clínica de reabilitação na cidade vizinha de Sousa.
Durante o tratamento, Giorggio prestou atenção em um item que passa batido para muitas pessoas: as vassouras. Ele as conhecia muito bem, claro, mas os funcionários da clínica usavam um modelo diferente de garrafa pet e produzido de maneira artesanal, com tesouras e cola. “Eu precisava mostrar para a minha esposa que eu tinha mudado de vida. Aí coloquei a nova vida em prática”
Além de vassouras, começou a produzir outros itens. Com uma garrafa e certa habilidade, ele criou um amplificador de som feito com garrafa pet, um troço improvável. Um amigo achou a invenção divertida e publicou o vídeo na internet, que fez certo sucesso e encheu a cabeça dele de ideias.
Por exemplo, percebeu que no YouTube havia pouquíssimos tutoriais sobre como produzir objetos com garrafas pet. Aí, decidiu que seria uma boa abrir um canal para explicar como fazer as vassouras de plástico, como fazer um varal, recortar um papa-moscas e fazer caixinhas de som plásticas.
Foi quando se tornou o “Gari ecológico”. Os vídeos são produzidos e editados por ele mesmo onde apresenta a invenção mais importante do seu acervo de criatividades: uma máquina para fazer vassouras de plástico. Um método industrial para picar e enrolar as garrafas sem precisar fazer tudo na mão.
A popularidade cresceu. Além das garrafas coletadas no trabalho, ele compra material de uma cooperativa na cidade vizinha de Sousa, a mesma onde se internou. Cada vassoura é vendida por R$ 15 na versão doméstica e R$ 35 no “vassourão”, um instrumento reforçado para a limpeza de calçadas.
Em 2020, ele afirma que a prefeitura de Aparecida comprou 35 vassouras por meio de um edital. Giorggio também vende por unidade e diz que, recentemente, enviou uma vassoura para um sujeito em Manaus. “O frete saiu mais caro do que a vassoura, mas o cliente quis muito me ajudar”, diz.
Uma página de doações descobriu o trabalho de Giorggio e promoveu uma vaquinha. O dinheiro foi investido em mais máquinas e na compra de uma oficina para operá-las e gravar os vídeos. Agora em 2023, ele foi selecionado para apresentar o trabalho a investidores em João Pessoa.
No futuro, deseja fundar uma cooperativa com catadores da região de Aparecida. Ele já se disponibilizou a montar mais máquinas e a oferecer treinamento para a produção de novos produtos recicláveis. Da prefeitura, também tem cobrado maior investimento em coleta seletiva.
Giorggio se livrou da dependência ou, ao menos, a mantém controlada em camadas mais inacessíveis do espírito. Se tornou, por força do ofício, menos tímido, mas ainda levemente ansioso.
A esposa o aceitou de volta. Assim como o marido, ela também prestou concurso público para a prefeitura de Aparecida. Hoje, os dois são garis e varrem as ruas da cidade na companhia um do outro.
Maluco tu é fera demais!
amei muito essa historia !!! aaaaa