São Paulo, entre junho de 2023 e maio de 2024 Uma mulher foi atropelada por um ônibus na rua Comandante Taylor em uma quinta-feira de julho. Eu sabia que os dilemas dela estavam prestes a acabar, mas que os meus teriam contornos mais traumáticos a partir daquela tarde, uma tarde ensolarada, onde ela morreria e eu continuaria. O destino designou cada uma daquelas pessoas ao meu redor para estar ali, naquele momento, experimentando uma percepção coletiva com efeitos individuais imprevisíveis. Todos nós vimos quando a respiração da mulher se tornava mais ofegante. Todos nós percebemos que o tórax subia e descia com menos força, ela mais pálida e indefesa. A ansiedade ao vê-la nesse estado possuía essa condição inútil, mas havia também nisso um sentimento fascinante. Ninguém a ajudava com uma massagem cardíaca, ninguém pedia para se afastar e facilitar a ventilação. Estávamos num surto de vaidade, usufruindo de um luxo. Víamos o momento exato da morte. Quem vê estes momentos? Médicos? Assassinos? Era uma carga dramática, uma encenação com intervalos, pois os atropelamentos possuem essa natureza teatral, os atos divididos entre a culpa ou a fuga do motorista, a vítima violentada pelo acaso, os familiares que choram ou fazem telefonemas para outros familiares, os curiosos que filmam com os celulares, as preces, os cochichos, a chegada dos bombeiros, dos socorristas, dos policiais, dos agentes de trânsito, o som metálico da maca, as luzes e os sons das sirenes das ambulâncias que, unidos, formam a atmosfera inverossímil da fantasia.
Quando teus textos chegam, até fecho o que quer que possa me enviar uma notificação no momento. :) Teus conteúdos têm combinado com o meu humor ultimamente, eles têm feito os meus dias! Aliás, deixo a recomendação de uma série chamada "How to with John Wilson" que, não sei por quê, me lembra um pouco o olhar que tu também tem sobre as coisas/pessoas/eventos
Que texto lindo, Marcos! Reverberou tanto por aqui! Sua escrita é muito cativante, fluí através das suas palavras...
Eu há anos tento visualizar o que realmente teria valor fundamental pra mim caso eu recebesse a notícia de uma doença terminal, mas não é assim que nossa mente funciona, né? Eu tenho alguns palpites, mas acho que nunca consegui vislumbrar realmente o que seriam essas coisas/pessoas/relações ou mesmo quando eu penso que, claro, seriam pai, mãe, marido, alguns amigos, não consigo me dedicar à eles com aquela entrega e urgência de quem sabe que o tempo é curto e precioso (e não é pra todos nós?), meus moralismos sempre aflorando, minhas pequenezas, egoísmos, vontades de estar certa e defesas. Outro dia ouvi numa conversa de café no trabalho que uma colega, cujo nome eu nem sei e só via eventualmente pelos corredores, mas aparentava ser mais nova que eu, descobriu um tumor no cérebro e isso me fez pensar na maternidade também. Nada parece fazer muito sentido. Até que um dia faz (ou não. rs).
Um dos textos mais bonitos que li! Estou boquiaberta! Parabéns! 👏🏻👏🏻👏🏻
Valeu, Roberta! Depressão pura, mas o próximo volto pra comédia!
Eu ainda tô embasbacada com tanta beleza das palavras. Vc é um artista.
Quando teus textos chegam, até fecho o que quer que possa me enviar uma notificação no momento. :) Teus conteúdos têm combinado com o meu humor ultimamente, eles têm feito os meus dias! Aliás, deixo a recomendação de uma série chamada "How to with John Wilson" que, não sei por quê, me lembra um pouco o olhar que tu também tem sobre as coisas/pessoas/eventos
Valeu, Diúlit! Eu amo muito essa série e fico feliz que com a comparação! Hahah Um abração e obrigado por ler!
incrível quanta coisa passa pela nossa cabeça diante de um acontecimento repentino.
Que lindo! Maravilhoso demais esse texto.
Um beijo.
Que texto lindo, Marcos! Reverberou tanto por aqui! Sua escrita é muito cativante, fluí através das suas palavras...
Eu há anos tento visualizar o que realmente teria valor fundamental pra mim caso eu recebesse a notícia de uma doença terminal, mas não é assim que nossa mente funciona, né? Eu tenho alguns palpites, mas acho que nunca consegui vislumbrar realmente o que seriam essas coisas/pessoas/relações ou mesmo quando eu penso que, claro, seriam pai, mãe, marido, alguns amigos, não consigo me dedicar à eles com aquela entrega e urgência de quem sabe que o tempo é curto e precioso (e não é pra todos nós?), meus moralismos sempre aflorando, minhas pequenezas, egoísmos, vontades de estar certa e defesas. Outro dia ouvi numa conversa de café no trabalho que uma colega, cujo nome eu nem sei e só via eventualmente pelos corredores, mas aparentava ser mais nova que eu, descobriu um tumor no cérebro e isso me fez pensar na maternidade também. Nada parece fazer muito sentido. Até que um dia faz (ou não. rs).
Obrigado pela leitura, Ana! É bom saber que não estamos sozinhos nas nossas confusões.
grande texto, marcos.